Nem toda cena polêmica nasce com orgulho. Às vezes, na tentativa de chocar, o cinema ultrapassa certos limites – e até seus próprios criadores percebem isso. Algumas dessas cenas entraram para a história como exemplos de quando a arte perturba demais, mesmo para quem a fez.
Diretores renomados já confessaram arrependimento por escolhas que, hoje, pesam em sua trajetória. Seja pela reação do público, pela ética envolvida ou pelo impacto emocional, essas cenas são lembradas não apenas pelo impacto visual, mas também pelos dilemas morais que carregam.
Confira 9 momentos do cinema que seus próprios cineastas gostariam de apagar da memória (ou pelo menos do roteiro).
1. O pesadelo simbólico de Mãe! (2017)
Darren Aronofsky não é estranho a polêmicas, mas com Mãe! ele ultrapassou qualquer expectativa. O filme é uma alegoria densa sobre criação, religião e destruição — e tudo isso culmina em uma das cenas mais perturbadoras da década: o sacrifício de um bebê, mostrado de forma quase ritualística.
A cena gerou revolta em parte do público e deixou até os espectadores mais experientes em choque. Aronofsky defendeu a sequência como parte da metáfora maior do filme, mas não escapou das críticas. Em entrevistas, admitiu que não esperava uma reação tão intensa e que talvez tivesse subestimado o impacto emocional que causaria. Mesmo para um diretor conhecido por explorar os limites da dor e da fé, esse momento ficou como um divisor de águas em sua carreira.
2. O trauma real em Último Tango em Paris (1972)
A cena de estupro com manteiga, protagonizada por Marlon Brando e Maria Schneider, se tornou um dos episódios mais controversos da história do cinema. O diretor Bernardo Bertolucci admitiu que a atriz não foi avisada previamente sobre o teor completo da cena.
A intenção, segundo ele, era capturar reações autênticas de raiva e humilhação. Mas o preço disso foi uma profunda marca na vida da atriz, que descreveu o momento como um verdadeiro abuso. Bertolucci, anos depois, confessou arrependimento por ter passado dos limites em nome da arte.
3. A brutalidade sem filtro de Holocausto Canibal (1980)
Ruggero Deodato criou um dos filmes mais infames do terror, misturando violência gráfica, mortes simuladas e até cenas reais de crueldade contra animais. A polêmica foi tanta que ele chegou a ser preso, acusado de assassinato.
O diretor reconheceu que incluir essas cenas foi um erro, especialmente os momentos envolvendo animais. “Fui estúpido ao fazer isso”, disse em entrevistas posteriores. Ainda que tenha se tornado um clássico cult, o arrependimento sobrevive junto ao legado do filme.
4. A violência extrema de Aniversário Macabro (1972)
Antes de se tornar ícone com A Hora do Pesadelo, Wes Craven já havia mergulhado em um terror mais cru. Aniversário Macabro tem cenas tão gráficas que foram censuradas em diversos países.
Anos depois, Craven admitiu que o filme passou dos limites. As cenas de estupro e assassinato, apesar de relevantes para a narrativa, foram consideradas “brutais demais” até mesmo por ele. O cineasta usou a experiência como lição sobre os efeitos colaterais da violência no cinema.
5. O erro doloroso em Ela Quer Tudo (1986)
Spike Lee, conhecido por seu posicionamento político e consciência social, cometeu um deslize grave em seu primeiro longa. Em uma das cenas, há uma situação de agressão sexual que hoje é amplamente criticada.
O próprio diretor já declarou, em várias ocasiões, que se arrepende da forma como conduziu a cena e que não a filmaria daquela maneira atualmente. O caso se tornou um exemplo de como até diretores engajados podem falhar – e crescer com isso.
6. A caricatura polêmica de O Silêncio dos Inocentes (1991)
Jonathan Demme entregou um dos thrillers mais premiados do cinema, mas nem tudo envelheceu bem. A representação de Buffalo Bill gerou críticas por reforçar estereótipos transfóbicos.
O diretor lamentou especialmente uma cena de dança do personagem, vista por muitos como ofensiva e mal contextualizada. Em entrevistas posteriores, Demme disse que gostaria de ter abordado a complexidade de Bill de forma mais cuidadosa.
7. O arrependimento emocional em Pânico 2 (1997)
Kevin Williamson, roteirista da saga Pânico, expressou tristeza por ter matado Randy, um dos personagens mais queridos da franquia. A cena acontece de forma abrupta e deixou fãs desolados.
Williamson confessou que a decisão de matar Randy foi influenciada por pressões de estúdio e expectativas do gênero slasher. Hoje, considera que o personagem merecia mais – e que sua morte foi um erro emocional para a narrativa.
8. A crueldade visceral de A Morte do Demônio (1981)
Sam Raimi criou um clássico do terror com A Morte do Demônio, mas uma cena em especial sempre o perseguiu: a da “árvore estupradora”. O momento causou forte controvérsia na época e segue sendo criticado até hoje.
Raimi já afirmou que a cena foi um exagero juvenil e que, se pudesse voltar atrás, teria feito diferente. “Foi uma ideia horrível”, disse o cineasta em uma entrevista anos depois, reconhecendo o impacto negativo da cena.
9. O terror realista de Vá e Veja (1985)
Vá e Veja é um retrato angustiante da Segunda Guerra Mundial sob o olhar de um adolescente. A atuação de Aleksei Kravchenko é tão intensa que o diretor Elem Klimov teve que usar técnicas extremas para obter as reações desejadas.
Anos depois, surgiram relatos de que o ator foi submetido a situações psicológicas difíceis durante as gravações. Embora o filme seja considerado uma obra-prima, Klimov revelou ter dúvidas sobre os métodos que utilizou para alcançar tanta autenticidade.